Audiência pública reúne mulheres para debate voltado à visibilidade lésbica

por Tarsila Rangel publicado 06/10/2023 17h02, última modificação 06/10/2023 17h02

Audiência pública realizada na Câmara Municipal de Petrópolis na noite desta segunda-feira (3) por iniciativa da vereadora Júlia Casamasso (Coletiva Feminista Popular) levantou uma importante discussão sobre as dificuldades enfrentadas no dia a dia por mulheres lésbicas. O evento, intitulado “Lésbicas: vivas e visíveis, o amor entre mulheres vai mudar o mundo!”, deu voz a essas mulheres, que falaram sobre a importância do diálogo para o desenvolvimento de políticas públicas que efetivamente atendam as necessidades deste público, de maneira eficaz.

O encontro, que foi transmitido ao vivo pela TV Câmara e também pelo canal da Câmara Municipal de Petrópolis no youtube, contou com a participação da advogada, ativista e defensora dos direitos humanos Karol Cerqueira; da diretora, roteirista e instrutora de audiovisual Beatriz Ohana; da jornalista, comunicóloga e doutoranda no Programa de Pós-graduação em Mídia e Cotidiano da Universidade Federal Fluminense (UFF), Natalia Kleinsorgen; e da jornalista, educadora e escritora Carla Magno. O vereador Léo França também participou da audiência.

Karol Cerqueira, que é militante e membro do diretório do PSB na cidade, membro da coordenação do Museu da Memória Negra de Petrópolis e assessora especial da Prefeitura, lembrou das dificuldades que já enfrentou por ser mulher, negra, periférica e lésbica e destacou a importância do debate, não apenas com a sociedade em geral, mas também com o próprio público LGBTQIAPN+. Ela falou sobre suas vivências e destacou que a mudança do sistema não depende apenas das mulheres lésbicas. “É uma caminhada para a qual precisamos de aliados”, frisou.

Beatriz Ohana, que, no cinema, dirigiu filmes premiados tanto no Brasil quanto no exterior e é representante do segmento de audiovisual do Conselho Municipal de Cultura, citou a necessidade de atenção às mulheres lésbicas na saúde. “É inadmissível o que enfrentamos, por exemplo, em uma consulta ginecológica. É preciso capacitar e conscientizar não apenas a população, mas também a classe médica”, lembrou.

Natalia Kleinsorgen, que também é pesquisadora, lembrou a necessidade de discutir a heterossexualidade compulsória e relatou muitas das dificuldades que as mulheres lésbicas enfrentam no dia a dia. “É muito importante a gente refletir sobre os espaços que estamos ocupando e, mais do que isso, sobre o que é necessário para nos mantermos onde chegamos”, afirmou, pedindo mais escuta e atenção à saúde mental das mulheres lésbicas.

Carla Magno, jornalista que está à frente de um projeto sobre formação cultural e política no Vale do Cuiabá, destacou a importância do debate sobre a cultura patriarcal. “Nós temos a coragem de estar aqui falando sobre isso, mas quantas pessoas não conseguem? Precisamos nos organizar, multiplicar a informação e trabalhar juntas por avanços”, disse.

O vereador Léo França, único homem a marcar presença no evento, reiterou várias vezes ao longo da audiência a necessidade de respeito. “Nós precisamos criar uma campanha voltada ao respeito e ao fim do preconceito. Precisamos respeitar as pessoas como elas são”, destacou.

A vereadora Júlia Casamasso lembrou que já protocolou na Câmara quatro Projetos de Lei, que estão tramitando no Legislativo, voltados a questões relacionadas às mulheres lésbicas, criando o Dia da Visibilidade Lésbica (29 de agosto) e o Dia Municipal de Enfrentamento ao Lesbocídio (21 de setembro), criando mecanismos para o levantamento de estatísticas de mulheres lésbicas no município e implementando, na saúde, medidas voltadas às mulheres lésbicas e bissexuais, levando em conta suas necessidades. A parlamentar solicitou, durante a audiência, apontamentos que possam também ser feitos em outros projetos e indicações, voltados a este público.

“Somos ferramenta para pautas que realmente importam e que podem, sim, fazer a diferença na sociedade. Tenho orgulho por trabalhar no desenvolvimento de políticas públicas que, de fato, vão ao encontro da necessidade da população, em especial das mulheres”, concluiu a vereadora.