Câmara Municipal reúne especialistas para debate sobre tratamento alternativo para demência
A Terapia de Estimulação Cognitiva (Cognitive Stimulation Therapy - CST), técnica não farmacológica desenvolvida no Reino Unido para o tratamento de pessoas com alzheimer e outros tipos de demência esteve no centro da pauta na noite da última quinta-feira (26), durante audiência pública na Câmara Municipal. O encontro, conduzido pela vereadora Júlia Casamasso (Coletiva Feminista Popular), contou com a participação de especialistas, que falaram dos benefícios da CST e da importância do olhar mais humanizado não apenas ao paciente, como também aos seus familiares e cuidadores.
Autora da Lei 8.589/2023, que prevê a criação de um programa de apoio à pessoa idosa com demência e seus familiares, a vereadora Júlia Casamasso explicou que a Terapia de Estimulação Cognitiva é composta por 14 sessões temáticas que focam no respeito e acolhimento da pessoa idosa, enquanto estimulam a memória, linguagem e outras funções cognitivas. “Estamos vivendo um momento de aumento da expectativa de vida e isso demanda trabalho para garantir dignidade à pessoa idosa. Isso inclui a pessoa com demência, que não pode ser colocada à margem da sociedade. É essencial buscarmos meios de melhorar a qualidade de vida destes pacientes e é exatamente neste sentido que vem a CST”, explicou a parlamentar.
Médica geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Rio Grande do Sul, a Dra. Berenice Maria Werle detalhou, durante o encontro, o andamento do Projeto Veranópolis - Estudos em Envelhecimento Longevidade e Qualidade de Vida. Na cidade, que tem 26 mil habitantes, um projeto de pesquisa analisa os resultados da CST em um grupo de 50 pacientes.
“Antes utilizávamos apenas as opções farmacológicas, que são bastante restritas pela tabela do SUS e são pouco efetivas em relação à evolução da doença. Quando iniciamos o projeto as pessoas ficaram um pouco relutantes, mas hoje elas conseguem ver o resultado. Todas notam os benefícios tanto na rotina das pessoas com demência quanto nas que estão no entorno dessa pessoa, sejam familiares ou cuidadores. Nosso objetivo é fazer com que essa terapia faça parte do que é oferecido para todos com o diagnóstico de demência ou de declino cognitivo leve no município”, explicou.
O psicólogo Daniel Mograbi, professor adjunto do Departamento de Psicologia da PUC-Rio, pesquisador-visitante de King's College London e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Saúde Mental do IPUB-UFRJ, explicou que, ao trazer a CST para o Brasil, foi preciso adaptar o modelo da técnica à realidade nacional. “Essa adaptação foi feita por um caminho de pesquisa muito sólido, unindo Brasil e Inglaterra. São países muito diferentes do ponto de vista da sua formação histórico cultural, das pressões sociais que sofrem, mas testamos a eficácia da terapia e mostramos que funciona também no Brasil. Funciona porque melhora o estado de humore também a capacidade funcional das pessoas com demência”, detalhou.
Também convidada, a psicóloga Renata Naylor, que é professora do treinamento para profissionais e estudantes em Terapia de Estimulação Cognitiva (CST) para pessoas vivendo com demência na PUC-Rio e uma das autoras do Manual Brasileiro da CST, frisa que a Terapia de Estimulação Cognitiva reúne elementos que são imprescindíveis para as pessoas que trabalham com tratamentos voltados a qualquer população, mas, principalmente, para o tratamento de pessoas vivendo com demência.
“Saber que a CST funciona é incrível. É algo centrado na pessoa, que estimula o cérebro. A técnica de fato enxerga a pessoa além da demência. Fazemos o trabalho em grupos, com diferentes atividades, incluindo jogos, dança e outros. E isso faz toda a diferença”, explica, apontando que há um manual para aplicação da técnica, de maneira que a CST pode ser aplicada em qualquer lugar do mundo, sempre com a mesma metodologia e objetivos.
“Estudos clínicos acerca dos efeitos da CST, publicados pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, sugerem que a intervenção por meio da CST tem desempenho comparável aos dos medicamentos utilizados para o tratamento da demência e que produz uma melhora significativa na cognição e na qualidade de vida daqueles que se submetem a técnica. Uma revisão recente da literatura, incluindo dez estudos qualitativos de diversos países, indicou benefícios percebidos na cognição, humor, autoestima, atividades, estimulação continuada fora da intervenção e melhorias nas relações com os cuidadores, além dos participantes terem considerado a CST como uma atividade prazerosa”, relatou a neurocientista e participante convidada da audiência, Iris Bomilcar.
Também participaram do encontro, enriquecendo o debate, a psicóloga Raquel Carvalho, que trabalha no projeto de implementação da CST no Brasil, coordenando o desenvolvimento de grupos da CST e de cursos de conscientização para demência no país; a psicóloga Virginia da Silva Ferreira, professora da Unifase, a arquiteta e familiar de pessoa com demência, Isabela Presto de Sousa, e Tânia Mara, que, na audiência pública, representou a Secretaria Municipal de Assistência Social.